terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Prefácio - Livro Os Valores na sociedade moderna


PREFÁCIO

Nada mais pertinente e atual do que um livro sobre Os Valores na Sociedade Moderna. Muitos autores contemporâneos incluíram em seus debates esta temática que abarca estudos cujo foco investigativo diz respeito à condição da mulher, da família, da criança e do jovem, incluindo, quase sempre, mesmo que secundariamente, a questão dos valores.

Contudo, sempre acabava por prevalecer uma lacuna relacionada com a produção de um conhecimento sistematizado sobre o conceito e a concepção dos Valores. Nesta obra, Nildo Viana, se propõe a preencher esse espaço de uma forma bastante enriquecedora esclarecendo desde o início sua opção por um conjunto de valores e desvalores. Por isso, oferece a nós, leitores, uma importante produção que, ao tomar como referencial a teoria social de Marx, constrói conceitos como axionomia em contraposição ao de axiologia, discute a relação entre valores, sentimentos e consciência; entre ciência, técnica e axiologia, ao mesmo tempo em que aprofunda criticamente várias questões, dentre as quais o processo de formação dos valores na sociedade capitalista.

Marx, desde o Manifesto Comunista, nos alerta para a questão dos valores, mostrando que, ao converter toda a dignidade e honra pessoais em valor de troca, a burguesia estabeleceu como valor fundamental não mais a liberdade mas a livre troca. Assim, o mercado tornou-se elemento central na esfera de infl uência da vida interior dos indivíduos, marcando defi nitivamente, na sociedade moderna, a relação entre valor econômico e honra. Conseqüentemente, a noção de indivíduo pautada nos valores de igualdade, liberdade e fraternidade, herdada do iluminismo do século XVIII extinguiu-se antes mesmo de ser concretizada. Como sociólogo e professor universitário em tempos de “ilusões pós-modernas”, nosso autor, convive cotidianamente, no meio acadêmico ou fora dele, com debates, concepções e leituras que acreditam numa superação da modernidade. Estaríamos, como lembrou Terry Eagleton, vivendo em meio a uma espécie de relativismo tolerante. Todavia, a leitura deste livro deixa claro uma opção política do autor, cuja tradição marxista concebe o trabalho como algo diretamente ligado à existência humana e, portanto, produtor de objetos valorativos.

Enfi m, a importância de um estudo dessa natureza reside principalmente no fato de que a modernidade provoca a fragmentação da realidade e nos oferece uma falsa perspectiva de autonomização dos objetos devido a reifi cação no mundo do capitalismo. É preciso, então, retomar o caráter social das coisas, da arte, de tudo aquilo que é socialmente produzido para compreendermos os valores como parte do universo dos homens, os quais mesmo desvalorizados pela sociedade da mercadoria, mesmo que transformados eles
próprios em mercadoria, insistem em constituir-se como sujeitos de sua história. Esta é a contribuição deste livro.

Veralúcia Pinheiro

Prefácio do livro:

Viana, Nildo. Os Valores na sociedade moderna. Brasília: Thesaurus, 2007.

Um comentário:

  1. Uma breve leitura deste prefácio, já nos remete ao quanto é de suma importância a base dos valores e da moral para que nossa sociedade fuja destes inimigos impostos pela consequência do capitalismo,impondo de certa maneira o estado de alerta permanente em que devemos viver, tendo nossos próprios semelhantes como adversário constante, e não como um merecedor de todos recursos produzidos pelas suas forças de trabalho social, confluindo assim como o diz o autor na perca do caráter social das coisas e estes parece ser embutido nos valores de trocas e da mais valia de forma injusta.Tudo isso nos leva a ter uma sociedade inerte, que sempre ver o caráter materialista, também destes valores. E uma perspectiva que poderia mudar esta realidade seria a educação, mas esta através de sistemas políticos arraigados, reproduz o caráter do mero estudo para o mercado de trabalho e não para a valorização do intelecto e do ethos. Como diz este prefácio, é preciso reinventar novos caminhos a trilhar, e reescrever uma outra história, com boa dose de filosofia e de experimentação no campo da militância!Suspiros sociológicos ou angústia por uma sociedade vivificada na divisão justa do trabalho social?

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