terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Resenha do livro "A Questão da mulher"



A Questão da Mulher: Uma análise crítica e uma esperança*


FABRÍCIO ARRUDA SANTOS


O livro A questão da mulher (1) tem como grande mérito não estar preso ao pensamento acrítico hoje dominante. Trata-se de uma coletânea de artigos sobre a questão da mulher que abarca a questão da opressão feminina, da violência contra a mulher e do trabalho feminino, além de conter também reflexões epistemológicas e sobre a ideologia do gênero, que, sem dúvida, estão relacionadas com as questões anteriormente colocadas.

O organizador Nildo Viana, autor de três ensaios, bem como Maria Angélica Peixoto, Veralúcia Pinheiro e Edmilson Marques, nos oferecem uma excelente análise da questão feminina. Esta obra aborda algumas questões de forma original, principalmente a crítica ao termo gênero, uma posição de extrema coragem e ousadia. Isto tudo no interior de uma abordagem que pode ser considerada multidisciplinar, envolvendo a sociologia, a história, a economia, a filosofia e outras ciências humanas.

A apresentação é muito boa e expõe que os autores do livro não possuem a mesma posição, embora o referencial teórico-metodológico praticamente seja o mesmo. Os textos são de boa qualidade, relacionam a questão da mulher com o movimento operário e o trabalho, apresentam a realidade da opressão feminina e da violência, a questão da mulher na comunicação, na política, no trabalho e discute conceitos, termos e métodos.

Enfim, é uma abordagem da questão feminina ao mesmo tempo geral, ampla, crítica e bem trabalhada. Os dois textos de destaque são Método Dialético e Questão da Mulher e Gênero e Ideologia, ambos de Nildo Viana. O primeiro explicita uma visão que ultrapassa as limitações metodológicas apresentadas por várias tendências contemporâneas, que é o isolamento da questão feminina das demais relações sociais, retomando a categoria de totalidade. A questão da mulher só pode ser compreendida se inserida na totalidade das relações sociais e não de forma isolada, o que faz cair no maniqueísmo ou no essencialismo. O segundo mostra as origens históricas e vinculações ideológicas do construto (falso conceito, unidade de um discurso ideológico, segundo explica o autor) gênero e ainda realiza a crítica da ''ideologia do gênero''.

Precisamos de livros assim, críticos, engajados, desmistificadores. O papel deste tipo de obra é questionar, romper com o discurso banal que povoam os nossos ouvidos, uma eterna repetição de lugares comuns recentemente produzidos e logo descartados. Assim, este livro tem o mérito de não ser mais um discurso banal e descartável sobre a questão da mulher, sendo uma obra de referência duradoura e que deveria ser inspirador de novas obras com o mesmo caráter.

1 - VIANA, Nildo. org. A Questão da mulher. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2006.
* Publicado em: www.csonline.ufjf.br/artigos/arquivos/edicao2/.../CSO_Fabricio_res

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